sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O que é o Conhecimento?



Escrito por Fábio Luiz Daemon da Silva
Quando falamos sobre o conhecimento é impossível não nos lembrarmos do significado da palavra “filosofia”. A filosofia sempre foi colocada como a união de duas palavras de origem grega: “philia” e “sophia”. A palavra “philia” tem como significado em português as palavras “amor” ou “amizade”. Já a palavra “sophia” tem como significado a palavra “sabedoria”. Logo, presumimos que filosofia significa um “amor ao saber”. Assim, vemos claramente que a filosofia nasceu como uma busca pela sabedoria, mais precisamente: pelo conhecimento.
O Conhecimento sempre foi o que o homem quis buscar, e a filosofia se interessou desde sempre em tentar estabelecer quais são as condições necessárias para que um conhecimento seja considerado verdadeiro ou não.

O homem sempre almejou o conhecimento. Quando o homem precisava se adaptar a um meio sempre buscou o conhecimento. O homem atuava pelo conhecimento para poder dominar e interagir na natureza, além disso, pelo conhecimento poderia se relacionar com os outros homens.
Na atualidade nos preocupamos mais com a “realidade” do que com conhecimento. Hoje em dia é comum tentarmos definir o que pode ser considerado real ou não. Entretanto, poucas vezes sabemos definir o que é um conhecimento. O que posso conhecer? Como posso conhecer? Essas perguntas geralmente causam um grande conflito em nossas mentes. Logo, entramos em um mundo repleto de conhecimentos já construídos, onde já temos intrinsicamente uma definição do que consideramos como realidade, porém nunca colocamos em pauta o que, afinal, significaria a palavra “conhecimento”.
Quando nos deparamos com a pergunta “o que é o conhecimento?”, evidentemente cairemos em questionamentos como: “como se conhece algo?”, “quem conhece?”, “por que conhecer?”, “o conhecimento verdadeiro é o subjetivo (relacionado ao sujeito que conhece o objeto) ou o objetivo (relacionado ao objeto que se deseja conhecer)?”.
Existem cinco formas de conhecimento humano: o senso comum, o mito, a teologia, a filosofia e a ciência. 
O processo de conhecimento humano é histórico. Ele é construído pelos homens ao longo de todas as épocas. O homem sempre foi construindo o seu conhecimento através dos livros, documentos, contos e etc. Sempre se preocupando em passar o conhecimento para os homens das futuras gerações.
SABEDORIA X CONHECIMENTO
Entretanto, quando falamos em conhecimento sempre se levanta a questão: qual seria a diferença entre a Sabedoria e o Conhecimento?
Sócrates considerava a sabedoria como algo inato ao espírito do homem. Ela seria uma habilidade intrínseca ao homem, algo que já nasceria com o homem. Já o conhecimento para Sócrates seria o ato de procurar, encontrar os procedimentos necessários para despertar a sabedoria no homem.
Logo, vemos que a sabedoria é algo inato ao homem. Uma capacidade de ser sábio já é encontrada dentro do homem, porém para que ele a exerça é necessário que procure instrumentos necessários para despertá-la, ou seja, produza conhecimento.
A TEORIA DO CONHECIMENTO
Para que possamos entender como a filosofia se preocupou com o conhecimento e tentou defini-lo, precisamos compreender a teoria do conhecimento. A teoria do conhecimento consiste numa explicação ou interpretação filosófica do conhecimento humano. O que se pretende nessa teoria é compreender o que é o conhecimento humano, como ele é construído e qual modo de conhecimento poderá ser considerado como verdadeiro.
A teoria do conhecimento sempre tratou o conhecimento humano como uma correlação entre a consciência e o objeto, ou seja, entre o sujeito e o objeto. Essa correlação entre esses dois elementos é a essência do conhecimento. A função do sujeito consiste em apreender o objeto, e a do objeto consiste em ser apreendido pelo sujeito.
TEORIA DO CONHECIMENTO EM PLATÃO
Para entendermos a teoria do conhecimento na filosofia, precisamos entender como o conhecimento foi designado desde a Antiguidade.
No diálogo “A República”, Platão estabelece a sua teoria do conhecimento como uma exposição de uma diferença entre o sensível e o inteligível. O inteligível tem uma extensão maior que o sensível. Logo, o conhecimento inteligível é muito mais amplo que o sensível.
Para Platão há quatro modos de conhecimento: a eikasía (imagem), a pístis ou dóxa (opinião), diánoia (raciocínio) e a epistéme ou nóesis (intuição intelectual).
O primeiro modo (eikasía) é o conhecimento pelas imagens, simulacros. Indica um modo de conhecimento pelo qual são apreendidas apenas as cópias ou as imagens de uma coisa sensível.
O segundo modo (pístis ou dóxa) é a opinião formada a partir das sensações e do que ouvimos dizer. É a opinião formada após o primeiro modo (as imagens). Ela é usada quando emitimos opiniões sobre as imagens, sem conhecer o objeto verdadeiro.
O terceiro modo (diánoia) é compreender pelo pensamento. É o modo que utiliza o raciocínio. Separa os argumentos ou razões para operar pela dedução ou pela demonstração.
O quarto modo (epistéme) é o saber verdadeiro. É o nível mais alto de conhecimento. É ele que possibilita que possamos encontrar a verdadeira essência de um objeto. É através dele que conhecemos verdadeiramente o objeto. É o conhecimento adquirido da inteligência com o inteligível.
TEORIA DO CONHECIMENTO EM ARISTÓTELES
Já para Aristóteles o conhecimento tem três características principais: procurar instrumentos que permitam conhecer coisas particulares, pois somente elas que correspondem à verdadeira realidade, a ideia de que o mundo é uma totalidade hierarquicamente organizada e racional, na qual só poderá ser conhecida mediante certos princípios, tal como o principio do terceiro excluído (princípio que consiste em afirmar que não pode existir algo que seja e não seja ao mesmo tempo. Ou alguma coisa é ou não é), e por fim, a solidariedade natural das coisas, onde tudo que está na natureza está interligado, se relaciona uns com outros.
O início do processo de conhecimento inicia com nada gravado. Quando se inicia o processo do conhecimento, nada temos em mente. Nada conhecemos. Nada temos gravado em nossas mentes antes. O conhecer é apenas uma potencialidade da nossa alma. É uma capacidade que temos ligada a nossa alma, mas que não se encontra previamente. É apenas uma capacidade que temos que desenvolver. As coisas sensíveis atualizam o nosso conhecimento. 
O conhecimento cresce em quantidade, qualidade e complexidade à medida que avança dos objetos simples aos mais complexos. O crescimento do conhecimento por complexidade vai quando se conhece cada vez mais os objetos, chegando a detalhes cada vez mais precisos deles. 

O aprendizado que possibilita o conhecimento. O exemplo da teoria do conhecimento de Aristóteles é o da leitura: temos a potencialidade de ler. Adquirimos a capacidade ou habilidade de ler por aprendizado. Quando compreendermos a forma e o sentido dos signos escritos, exercemos perfeitamente a nossa habilidade de ler, que fora aprendida anteriormente.
TÉCNICA X PRODUZIR CONHECIMENTO
Na sociedade atual muito se discute sobre a diferença entre a técnica e o conhecimento. O trabalho da técnica é a atuação do uso do conhecimento. A importância da técnica está em facilitar a relação do homem com a realidade. A técnica ajuda o homem a se relacionar melhor com a realidade, por exemplo: computadores, celulares e etc. Para exercer o trabalho técnico é necessário gravação de fórmulas, de conceitos e etc. A técnica é a que domina a nossa sociedade atual. É ela a mais usada pelos homens na atualidade.
Já, o conhecimento implica se despojar do conhecimento pronto, do conhecimento já dado. Se usarmos somente a técnica em nossas vidas, estaríamos somente usando um conhecimento pronto, não produzindo nada, logo, estaríamos sendo apenas meros repetidores.
CONCLUSÃO
Vimos que o problema do conhecimento sempre esteve presente na sociedade, e a filosofia sempre tratou de tentar defini-lo. O conhecimento passa de uma geração para outra. É ele que possibilitará o homem se relacionar melhor com a natureza e com os outros homens. Para isso o homem criou diversos tipos de conhecimentos, são eles: o mito, a filosofia, a teologia, o senso comum e a ciência.
A teoria do conhecimento sempre estabeleceu que para que se tenha conhecimento é necessário que tenha uma correlação entre aquele que apreende um objeto e o objeto que é apreendido. É a relação entre a consciência e o objeto.
Filósofos da Antiguidade definiram o conhecimento de diversas maneiras, entre eles Platão e Aristóteles foram os que mais se destacaram. Platão acreditava que existiam quatro modos de conhecimento: o conhecimento pelas imagens, pela opinião, pela dedução ou raciocínio e pela episteme (saber verdadeiro). Sendo a última o conhecimento mais completo. Já Aristóteles pensava que o conhecimento só é possível através de uma procura por instrumentos que possam apreender os particulares, pois somente eles é que constituem a realidade; através da ideia de um mundo hierarquicamente construído; e por fim, através da ideia de que tudo na natureza se relaciona. Entretanto, tanto Aristóteles quanto Platão acreditavam no que Sócrates dizia: o saber é inato ao homem. A possibilidade de se conhecer é uma habilidade intrínseca ao homem, e somente o aprendizado é que possibilita o homem a potencializar essa habilidade já encontrada nele.
Por termos a habilidade de conhecermos algo, como afirmavam Platão, Aristóteles e Sócrates, devemos abandonar qualquer tipo de conhecimento pronto. Jamais devemos ser meros repetidores da técnica. Produzir conhecimento é diferente da técnica, esta só serve para nos facilitar no nosso cotidiano, ao nos relacionarmos com a nossa sociedade e com a natureza, já a produção do conhecimento desperta em todos nós uma habilidade inata ao homem: a sabedoria. Somente poderemos nos considerar sábios quando pudermos despertar a sabedoria pelo conhecimento, que será apreendido pelo aprendizado.
Logo, vemos que o conhecimento é importantíssimo para todos nós, pois é ele que é capaz de conseguir fazer o homem se relacionar melhor com a natureza, conhecendo-a cada vez mais.



PERGUNTAS

1.       O que é o conhecimento?
2.      Qual a relação necessária para que haja conhecimento, conforme a Teoria do Conhecimento?
3.      Porque o inteligível é mais extenso que o sensível para Platão?
4.      Explique como o conhecimento cresce para Aristóteles.
5.       Qual o modo de conhecimento verdadeiro para você? Mito, Senso Comum, Filosofia, Ciência ou Teologia? Por quê?

GLOSSÁRIO

 Dóxa - Palavra grega que designa opinião, crença comum. É o segundo modo de conhecimento para Platão.
Diánoia - Palavra grega composta de outras palavras gregas día (divisão, separação) e nóia (compreender pelo pensamento). Essa palavra designa o conhecimento pela dedução, pela demonstração. É o terceiro modo de conhecimento para Platão.
Eikasía - Palavra grega que designa simulacro, simulação, imagens, cópias. É o primeiro modo de conhecimento para Platão.
Epistéme - Palavra grega que ciência, saber verdadeiro. É o quarto modo de conhecimento para Platão.
Mito - É uma narrativa de caráter simbólico, relacionada a uma dada cultura. O mito procura explicar a realidade, os fenômenos naturais e as origens do Mundo e do homem por meio de deuses, semideuses e heróis. Foi primordial para o nascimento da filosofia na Grécia Antiga.
Senso Comum - É a primeira suposta compreensão do mundo resultante de práticas sociais de uma comunidade. Descreve as crenças e proposições que aparecem como normal, sem depender de uma investigação detalhada.
Teologia - Junção das palavras gregas theos (divindade) com a palavra grega logos (palavra, razão). É o estudo relacionado aos deuses. Um estudo pautado na divindade.

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