quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Nietzsche e a Arte Trágica

 Friederich Nitezsche
Escrito por Bruno Tavares Assunção

Friederich Nitezsche, filósofo alemão do século XIX, realiza um longo estudo acerca da arte trágica. A tragédia teria sua origem nas festas populares dedicadas ao deus Dionísio, o ditirambo, uma espécie de canto coral uma espécie de encenação composta por uma parte de narrativas e outra de coro musical. Nietzsche resgata a concepção que Aristóteles apresenta na em seu livro Poética, nesta obra Aristóteles faz uma comparação dos gêneros literários e concebe ao fim da obra a o gênero trágico como o maior de todos os gêneros. Para Aristóteles o gênero poética seria o maior de todos, pois nele a vida pode ser representada de maneira mais fiel, sendo representada fielmente, a vida consequentemente atinge a um maior número de pessoas e consequentemente de uma maneira mais enérgica, mais forte os expectadores.


A tragédia grega é o meio pelo qual as pessoas veem as suas vidas retratadas, com problemas reais, assim a tragédia grega é tida como um meio pelo qual o homem sobrevive, o meio pelo qual encontra forças para a sua vida, pois ao ver a sua vida retratada com suas questões na tragédia o homem encontra maneiras de pensar a sua própria vida, o leva a se questionar e tentar encontrar soluções para a mesma. O público não é tido apenas como um expectador, mas um sim um público-artista, pois é aquele que não exerce apenas o papel de expectador, mas sim exerce o poder da tarde que é obtido pelo seu papel de expectador em um papel transformador, o poder de transformar a sua vida.

Para Nietzsche a maior arte de todas e consequentemente a maior força está na música, que é a parte representada pelo coro na cena trágica. A música seria a única expressão artística capaz de levar o público-artista ao verdadeiro êxtase. Todo esse entusiasmo leva Nietzsche a construir uma grande admiração e a uma amizade pelo compositor alemão Richard Wagner, compositor alemão, conhecido pela grandiosidade de suas obras, grandiosidade esta até então nunca vista. Para Nietzsche, Wagner tinha resgatado o verdadeiro espírito grego, pois suas obras tratavam de temas mitológicos com verdadeira propriedade, necessitavam de grandes teatros, com uma engenharia acústica específica e ainda era necessária uma certa disposição e entrega tanto dos artistas como do público, pois geralmente as obras de Wagner duravam horas. 

Richard Wagner
 O Apolíneo e o Dionisíaco 
  
Há impulsos artísticos naturais, ou seja, que fazem parte do homem, segundo Nietzsche, que estão presentes na arte trágica, o saber apolíneo, do deus Apolo, que representa a beleza, a harmonia, a proporção e o do deus Dionísio a força brutal, o êxtase, a bestialidade natural. Essas duas forças se opõem e se complementam, uma não existe sem a outra.


O povo grego cria a beleza como uma maneira de escapar da dor e do sofrimento, é aí que está o saber apolíneo, já em Dionísio o homem encontra o seu estado natural, esse êxtase dionisíaco permite ao homem esquecer o Estado Ateniense, é um estado de embriaguez, dessa forma o homem percebe o mundo triste em que vive, quando criou a beleza, para mascarar a triste verdade. No dionisíaco ocorre uma aproximação com o que Nietzsche chama de Uno-primordial, ou seja, o mundo das emoções, da intensidade. É a experiência realizada através da obra de arte que compõe o Ideal Dionisíaco, é aí que se caracteriza ao mesmo tempo o embate e a complementação do Dionisíaco e do Apolíneo, os elementos artísticos do dionisíaco são ao mesmo tempo reprimidos pelo Apolíneo e acrescentados por suas medidas. É o ideal de acrescentar ao saber Dionisíaco o saber Apolíneo. Outro conceito importante a se saber é o de Embriaguez, não uma embriaguez alcançada pelo uso de substâncias, mas embriaguez dionisíaca, um estado que alcançamos através da arte. 

A Morte da Arte Trágica 

A Arte Trágica se opõe à racionalidade filosófica, ambas, são criações do homem, mas enquanto a Arte Trágica se exerce de maneira positiva sobre o homem, a racionalidade é decadente, segundo Nietzsche. Eurípedes seria o primeiro responsável pela morte da arte trágica, em suas obras, exceto As Bacantes, Eurípedes teria inserido o homem comum na tragédia, ou seja, o povo grego iria ao espetáculo para assistir o seu cotidiano ser representado, o homem comum passara a ser o herói. A tragédia com Eurípedes torna-se apenas uma narrativa e é feita para o público, como uma maneira de entretenimento. Nietzsche faz duras críticas à Sócrates, ele ao mesmo tempo como o fundador da racionalidade ocidental, como também aquele que dá início a decadência do homem.

Segundo alguns relatos, Sócrates em seus últimos dias de vida na prisão teria musicado algumas fábulas de Esopo, levado pela catarse da alma, ou seja, a volta da alma em uma nova encarnação sob a forma de um outro organismo. Platão em sua obra A República faz duras críticas aos poetas e aos dramaturgos, alegando que neles não se deve confiar, pois falam de maneira a seduzir os que ouvem suas palavras. É a partir de Platão surge uma sociedade que tem a necessidade da escrita.

Para Nietzsche há uma relação entre a arte e o sofrimento na tragédia, a arte é uma imitação não da natureza, mas do processo da natureza. O público, que ele chama de público-artista, percebe através da individuação do herói trágico, o eterno, ou seja, ele percebe o âmago da existência, é o que ele chama de consolação metafísica. Por isso o trágico está ligado à alegria. É no âmago da existência que o homem percebe que há vida ainda, que nem tudo está perdido. É o que ele chama de Consolação Metafísica. A morte da Tragédia é representada principalmente pela tentativa de correção da existência, e isso é feito através da racionalidade. 

Glossário:

* Apolíneo – impulso artístico, relativo ao deus grego Apolo, deus da forma, da clareza, a bela aparência; 

* Arte trágica – gênero literário originário da Grécia Antiga nas festas dedicadas ao deus Dionísio. A tragédia é caraterizada por conflitos entre deuses e o homem e surge juntamente com o gênero da comédia. 

* Dionisíaco – outro impulso artístico, que se complementa com o impulso apolíneo, diz respeito ao deus Dionísio, deus do vinho, da desmensura, do exagero, contudo é necessário o impulso apolíneo para que esse seja controlado

 Questões:


1 – Qual a importância da tragédia na sociedade grega antiga?

2 – A partir da leitura do texto descreva os conceitos de apolíneo e dionisíaco, relatando as suas diferenças e de que maneira se complementam.

3 – Como, segundo Friedrich Nietzsche, a morte da arte trágica?

4 – Em sua opinião, a tragédia, ou o enredo de uma peça teatral é apenas uma representação, uma história ou um retrato da sociedade em que vivemos? Justifique a sua resposta.
  

5 – Pesquise uma peça teatral de algum autor brasileiro, descrevendo alguma questão da sociedade que é abordada na peça.


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