Muitos
só conhecem de Nitzsche a frase “Deus está morto”. Não se trata do Deus
vivo que é imortal. Mas do Deus da metafísica, das representações
religiosas e culturais, feitas apenas para acalmar as pessoas e impedir
que se confrontem com os desafios da condição humana. Esse Deus é
somente uma representação e uma imagem. É bom que morra para liberar o
Deus vivo. Mas não devemos confundir imagem de Deus com Deus como
realidade essencial. Nietzsche estudou teologia. Eu pude dar uma
palestra na Universidade de Basel na sala em que ele dava aulas, quando
fui professor visitante em 1998 lá. Essa oração que aqui se publica é
desconhecida por muitos, até por estudiosos do filósofo. Por isso no
final indico as fontes em alemão de onde fiz a tradução. No original,
com rimas, é de grande beleza. (Leonardo Boff)
Oração ao Deus desconhecido
Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.
Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.
Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.
Friedrich Nietzsche (1844-1900)
Fonte: AVIA
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